O códice Borgia, também conhecido por Codex Borgianus Mexicanus e até por Index Borgia é um manuscrito escrito antes da invasão espanhola no México, possivelmente na região de Puebla – México. Essa suposição se baseia em outras evidências arqueológicas, principalmente de cerâmica e pintura em murais, com um estilo similar ao códice. No entanto ainda não há consenso de qual região esse texto provém e alguns estudiosos sugerem ser de Mixteca. Acredita-se que ele tenha sido escrito entre 1250 – 1520

Ele é conhecido por Códex Borgia porque foi descoberto como espólio do cardeal Stefano Borgia em 1805, após a sua morte, por Alexander Von Humbolt junto com outros documentos denominados “Grupo Borgia”. Atualmente integra a coleção do Vaticano com outros documentos da coleção do Borgia de civilizações romanas, egípicias, gregas, hindu, árabe, rúnicas e mexicanas.

É um livro feito de pele animal com 39 folhas de 27cm x 27cm, totalizando quase onze metros de comprimento. As folhas contém ilustrações de conteúdo divinatório e ritualístico em ambos os lados, exceto na folha de capa a qual estava conectada a uma madeira (infelizmente a cobertura original de madeira se perdeu). As imagens contém um contorno preciso, normalmente em preto e representam figuras humanas, plantas, árvores, animais, água, construções, seres celestiais, escudos e ferramentas.

Codex Borgia, pg 25

Acredita-se que as linhas pretas de contorno eram usadas para dar a sensação de sombreamento, textura (como na garra do pássaro as linhas diagonais de direções opostas), acabamento delicado e preciso (como no bico do pássaro) e outras vezes linhas mais grossas (como na perna da figura humanóide e nas assas do pássaro). Veja a imagem abaixo:

Codex Borgia, pedaço da página 23

No início do período colonial espanhol foi-se recolhido alguns documentos pelos espanhóis que conquistaram a Mesoamerica, conhecidos como registros etnohistóricos, que incluiam crônicas e manuscritos ilustrados por artistas indígenas que continham algumas explicações (interpretações dos textos) em espanhol, Nahuatl (a língua dos mexica / astecas) Latin e até em italiano. Isso permitiu que se entendesse melhor esses manuscritos pré Colombianos.

Por exemplo, na página 28 do Codex Borgia, há uma ilustração do Deus Tlaloc, deus das chuvas cuja a iconografia inclui presas e olhos arregalhados. Tlaloc usa uma roupa com elementos dos Deuses criadores, começando em baixo à direita e seguindo em direção anti-horária estão: Tezcatlipoca; Tlahuizcalpantecuhtli ; Xiuhtlecuhtli ; Quetzalcoatl e Xochipilli . Há também uma figura feminina considerada uma deusa que usa o cabelo de  Ehecatl (Deus do Vento), e Xochiquetzal a flor de Quetzal. Ao final da ilustração há signos que marcam as datas dos dias e anos. Veja a imagem abaixo:

Codex Borgia, pg 28

De maneira geral acredita-se que as ilustrações são registros do movimento do planeta Vênus e outros astros, o que conecta a iconografia à astronomia e padrões de chuvas. Infelizmente muitas ilustrações estão severamente prejudicadas (veja o link ao final da página com a versão digitalizada disponibilizada pelo Vaticano) e abre espaço para  divergências em relação ao seu significado. A iconografia dessa página relaciona-se ao milho, criando algum tipo de orientação agrícola.

Os documentos que formam o Grupo Borgia são considerados como as melhores expressões artísticas do México antigo. São documentos que tem em comum o estilo e a temática no qual cada um contém um calendário ritualístico chamado de tonalámatl , “almanaque dos destinos” e com ele se conta os dias tonalpohualli , ciclo ritual de 260 dias. Nele estão representados os vinte signos do calendário. Com o calendário se realizava previsões favoráveis ou desfavoráveis a partir das combinações específicas entre os dias, divindades e astronomia. Atualmente acredita-se que além das funções astronômicas a adivinhatórias, o Codex Borgia é também um registro histórico, ritualístico, místico e também com informações botânicas (por exemplo a página 28 acima, acredita-se tratar de uma orientação do melhor dia para executar a polinização do milho). Infelizmente pouquíssimos desses manuais adivinhatórios sobreviveram, os cinco mais bem preservados são: Códice Borgia, Códice Laud, Códice Vaticano B, Códiece Cospi e Tonalamatl (também conhecido como Códice Fejérváry- Mayer).

Até hoje não se sabe como esses documentos chegaram à Europa. Apenas em 1887, Eduard Seler começou à estudá-los e interpretá-los. Esses estudos serviram como base para estudos futuros de maneira fundamental para compreender a complexidade dos rituais dos povos nativos. Infelizmente muitas ilustrações se perderam, mas graças ao trabalho de Gisele Diaz e Alan Rodgers de recuperar as ilustrações e reproduzi-las em um livro, hoje é possível adquirir um exemplar do Códex Borgia.

Referências

Arqueología Mexicana, Edición especial núm. 31, Códices prehispánicos y coloniales tempranos. Catálogo, pp. 24 – 25.

https://digi.vatlib.it/view/MSS_Borg.mess.1 Nesse site é possível ver a versão digitalizada do Codex Borgia.

https://www.khanacademy.org/humanities/art-americas/early-cultures/aztec-mexica/a/codex-borgia

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